19 de setembro de 2012

Viagem

O sino tocou seis badaladas.Seis horas da tarde .
As luzes da cidade iam se acendendo pouco a pouco ,uma a uma pelo velho manco com seu acendedor manual .
Eram poucos os lugares e casas em que havia luzes ,ou melhor dizendo lampiões.
Na casa onde nasci sempre foi usado velas,que caminhavam ,sim para economizar andávamos segurando as velas conforme íamos para outro aposento.
Nesta tarde depois de comer a sopa eu me sentia angustiada e fui me sentar no escuro,ver o anoitecer chegar,observar a Lua ,as Estrelas e pensar na vida que deixei para trás na Cidade Grande.
Hoje sentia ,mas do que nunca ,uma tristeza apertar o meu peito com as lembranças .
As lembranças me atormentavam.Será que era a falta do sucesso?Dos amores?Do dinheiro?Eram sentimentos incongruentes pois eu sabia ,hoje,que foi tudo tão fugaz. 
Mas eu fui feliz ou me sentia muito feliz .
Recordei de todos momentos desde o início até os dias atuais e confesso que nesta conta quem ganhou foi o passado.
É melhor me deitar ,pensei ,pois ,sinto meu coração dolorido e algo me diz ,como uma premonição que meu fim está próximo.
Afinal desde criança essas visões do futuro me acompanharam ,e com anos de muito estudo fui como uma pequena bruxa ,através das alquimias que praticava . 
Esta prática me trouxe muitos problemas ,pela inveja de outros . Daí o motivo de eu vir me refugiar nesse lugarejo ,queria encontrar um pouco de paz,mas o passado,ali estava ele sempre me perseguindo trazendo as lembranças.
Antes de adentrar em casa,estendi uma das palmas da mão em direção ao céu e a outra virei para baixo.
Era para me energizar e tirar as más influências com a outra mão(coisas de bruxarias no bom sentido).
Entrei em casa e me estirei na cama.
E ela chegou como eu previa .Me abraçou com suas garras ,me beijou e me levou .
Fiz o caminho de volta devagar e de longe já enxergava o meu novo lar.
Não sei por quanto tempo por lá vou ficar,mas se tiver que voltar o que aprendi aqui com meus erros sei que não vou esquecer .Erros que não se repetirão. 

Ilustração com fotografia de Lucia Marina Rodrigues

Pintura por William Pereira (1980) nascido em São Paulo -Brasil em 1945/ Original do Acérvulo de Lucia Marina Rodrigues

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