1 de julho de 2012

Um Dia Feliz


                                            Um dia feliz...
O despertador antigo tocou aquele comum rimmmmmmmmmmmmm, e ela esticou o braço apertando o botão de parar. Foi rápido ,pois já estava acordada há tempos,ou melhor não dormiu devido a excitação.O ponteiro marcava 3 horas .Não precisaria de mais que quinze minutos para estar pronta ,pois o primeiro ônibus começa a circular a partir de 4 horas,mas a felicidade que sentia era maior que o medo e ela não passa duas vezes no mesmo lugar ,então temos que estar despertos para agarrá-la.

Seu momento havia chegado .

Vestiu a melhor roupa: camisa de algodão xadrez azul e branco, calça comprida de brim, uma imitação barata de jeans, sandália de couro cru, tipo nordestino e a bolsa preta surrada. Verificou mais uma vez  os documentos ,olhou no espelho passando um pouco de sabonete no cabelo para assentar alguns fios carapinha.

Fechou a porta delicadamente e saiu para o amanhecer que ainda dormia. As ruas desertas não amedrontavam.Porque quando vamos ao encontro do que queremos não vemos o perigo a espreita,esqueceu até das palavras que sempre pronunciava antes de sair: “Orai e Vigiai”.

Subiu a escada escura e mal cheirosa da ruela até atingir a rua principal. Esperou ansiosa o primeiro ônibus para levá-la até a Rodoviária.

Não queria chegar atrasada e outro ônibus intermunicipal circulava com poucos horários. Mas tudo daria certo .Estudou o percurso desde que chegara no seu pequeno quarto e viu o telegrama para comparecer no endereço para tratar assunto de seu interesse.

Ela vibrou muito, sabia que se tratava de um emprego o qual sonhara e se preparou durante anos para essa oportunidade. Seu dia chegou.

Quando o ônibus intermunicipal estava na estrada, denominada Rodovia da Morte, ficou em pé para localizar o local que teria que descer. O motorista parou no quilometro indicado e ela desceu.
Lá estava ela, seu sonho, imponente, muitos prédios rodeado de um jardim enorme, tudo muito limpo. Outro mundo ,ela pensou ,e eu quero muito pertencer a este lugar . Eu mereço.

Na portaria suntuosa se identificou e não se importou com os olhares de desprezo das recepcionistas quando disse a que veio.

Orientaram como chegar ao prédio, dentre muitos, e mais uma recepcionista pediu para esperar, até que o doutor a chamou.

Sentado em sua mesa, foi muito objetivo, apontou uma lousa e já foi testando seu conhecimento para o cargo.

Ela respondia a tudo e escrevia com o giz rapidamente sem pestanejar em nenhum momento.

Quando acabaram as perguntas ele disse: eu prefiro um homem para esta vaga, e observando ela dos pés a cabeça,continuou dizendo , acho que não terei nenhum problema com a senhora, a vaga é sua “doutora”, mas vejo um problema que talvez você não queira aceitar. Ela mais que depressa foi responder que aceitava qualquer exigência, ele cortou sua palavra e disse que o salário seria de uma certa quantia que a deixou com a cabeça fora de órbita. Era muito ,mas muito mais que ela almejou ganhar na vida ,talvez porque não se julgasse merecedora de tanto .

Despediu-se e agradeceu, querendo se ajoelhar na frente daquele simpático senhor de olhos verdes. Ele se aproximou, apertando forte sua mão dizendo: então até amanhã se você puder começar já “doutora”. E ela humildemente respondeu:sim posso começar amanhã mesmo e obrigado por me tratar de “doutora”.
E ele respondeu :somos iguais ,temos o mesmo conhecimento e somos doutores.

Ela queria só sair ràpidamente e chegar até sua mãezinha para contar tudo que aconteceu. Seu sonho ,suas preces ,tudo compactuou para essa realização.

Quando saiu da portaria sentiu que seus pés não tocavam no chão, parecia que voava e com um sorriso nos lábios colocou os pés para atravessar a rodovia do outro lado onde tomaria o ônibus de volta.

Ouviu um barulho forte e estava voando novamente, é de felicidade pensou e sorriu.
                                          Aquarela por Lucia Marina Rodrigues

Estava voando, é a pressa de chegar e contar para mãezinha.
Sentiu seu corpo leve como uma pena e seus enxergaram longe e viram :um corpo estirado na estrada ,viu uma camisa de xadrez azul .
Que é isto?
Sou eu caída no chão?
Não pode ser!
Estou voando, não sinto meus pés, mas é de felicidade.
E meu corpo não sinto!
Sou duas?
Quem está com minha roupa caída no chão?
Porque não sinto meu corpo?
Ei, estou aqui!
Ninguém me vê?
Eu preciso contar para mãezinha que realizei o meu sonho!
Ei!
Para onde estou indo!
Eu vou começar a trabalhar amanhã!
Ei me escutem!
                                                                            Lúcia Marina Rodrigues                              

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